Caros participantes do 50o. COBEM,
Já faz algum tempo que se observa na
educação brasileira, principalmente na educação médica, uma crise sem
proporções. Medidas governamentais que atendem a interesses externos e que,
consequentemente, sucateiam nossas universidades e, não tão silenciosamente,
vem submetendo a educação brasileira a uma dura caminhada rumo a completa
precarização. Há ainda a abertura desenfreada de escolas médicas, sobretudo no
estado de São Paulo, sob a justificativa de que o Brasil são necessários mais
médicos para resolver o problema da saúde brasileira. Nos deparamos também com
a inexistência de um processo de avaliação oficial, continuado e de qualidade
dentro das escolas médicas, o que permite que cursos de qualidade duvidosa
sejam sustentados, com ideais escusos e propiciando uma formação tecnicista e
alienada. Tudo isso acaba produzindo profissionais de qualidade questionável,
meros cumpridores de protocolos, que não refletem sobre seu próprio trabalho e
seu papel na sociedade. Deveria ser consenso que escolas que recebem
autorização do MEC para ministrar cursos de medicina estivessem aptas a
formarem profissionais que não fossem simplesmente reprodutores de protocolos,
mas que enxergassem e atuassem além deles, vendo o paciente como um ser social
e proporcionando atendimento integral e de qualidade.
É dentro desse cenário que o CREMESP
tornou obrigatória a realização de sua prova, aplicada desde 2005 (um
protótipo, segundo o próprio Conselho, de um exame de ordem) para os
recém-formados médicos paulistas, para tentar barrar a entrada de “maus”
médicos no mercado de trabalho.
Há ainda intensa mobilização de
diversos setores, com repetidos pronunciamentos do Conselho na mídia aberta, de
caráter alarmante sobre o tema, com a transmissão de informações
insuficientes, com forte apelo à
sociedade (que obviamente luta por médicos melhores preparados para atendê-la),
mas que, infelizmente, não tem oportunidades nem canais suficientes para
refletir sobre a validade e efetividade de tal exame, muito menos sobre as
condições em que se encontra a educação médica atual. Entre adeptos fervorosos
à prova e posições indecisas, poucas Instituições tem-se mostrado claramente
contrárias a esta empreitada realizada pelo CREMESP.
Ponto discordante dessa tendência seriam a DENEM e a ABEM. A DENEM
(Direção Executiva Nacional Dos Estudantes de Medicina), desde o ano de 1989,
já se posicionava criticamente frente ao tema. Em janeiro de 2005, a ABEM publicou carta
assinada pelo Prof. Dr. Milton de Arruda Martins, professor da USP-SP e então
presidente da ABEM, em que se posicionava contrária a instituição no Brasil
de qualquer tipo de exame de Habilitação, realizado após o final do curso
médico, reforçando a necessidade de uma melhor participação
governamental neste aspecto, desde o fomento e reestruturação das escolas em
vigência ao controle da abertura indiscriminada de novas escolas médicas. No
mês de agosto deste ano, o CREMERJ emitiu uma nota em seu jornal
posicionando-se contrário a iniciativa do CREMESP. Nesta paisagem nublada os
estudantes se mobilizam e procuram uma posição, nos momentos em que suas áreas
verdes possibilitam, em meio a intensas atividades curriculares obrigatórias.
Acreditamos, que a avaliação
discente, bem como da Escola Médica, é de extrema importância. Para tanto,
faz-se necessária uma avaliação que realmente contemple as atitudes e
habilidades fundamentais para o desempenho do bom médico, e que seja continuada
ao longo do curso, de modo a permitir a correção das deficiências encontradas,
sejam elas individuais, do estudante, ou do ensino. Sendo terminal o proposto
exame, nada sofreriam as escolas médicas
que não formam bons médicos, sendo imprescindível que as escolas sejam
avaliadas, bem como sua estrutura e corpo docente e não apenas seus produtos
(os alunos). Acreditamos ser de extrema
importância uma avaliação ao longo do curso para que, com isso, as reais
deficiências no ensino fosse percebidas e corrigidas antes da formatura do
estudante.
A Regional São Paulo da ABEM
acredita que uma avaliação única, simplesmente teórica e terminal, não
será capaz de avaliar a qualidade dos egressos de medicina e em nada
contribuirá para a melhoria do Ensino Médico. Por esse motivo, decidiu, em
reunião realizada no dia 22 de setembro de 2012, nas instalações da Faculdade
de Medicina na USP, produzir esta carta, que demonstra a sua posição contrária
ao exame proposto pelo CREMESP.
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