terça-feira, 16 de outubro de 2012

Carta da ABEM São Paulo sobre o Exame do Cremesp


Caros participantes do 50o. COBEM,


            Já faz algum tempo que se observa na educação brasileira, principalmente na educação médica, uma crise sem proporções. Medidas governamentais que atendem a interesses externos e que, consequentemente, sucateiam nossas universidades e, não tão silenciosamente, vem submetendo a educação brasileira a uma dura caminhada rumo a completa precarização. Há ainda a abertura desenfreada de escolas médicas, sobretudo no estado de São Paulo, sob a justificativa de que o Brasil são necessários mais médicos para resolver o problema da saúde brasileira. Nos deparamos também com a inexistência de um processo de avaliação oficial, continuado e de qualidade dentro das escolas médicas, o que permite que cursos de qualidade duvidosa sejam sustentados, com ideais escusos e propiciando uma formação tecnicista e alienada. Tudo isso acaba produzindo profissionais de qualidade questionável, meros cumpridores de protocolos, que não refletem sobre seu próprio trabalho e seu papel na sociedade. Deveria ser consenso que escolas que recebem autorização do MEC para ministrar cursos de medicina estivessem aptas a formarem profissionais que não fossem simplesmente reprodutores de protocolos, mas que enxergassem e atuassem além deles, vendo o paciente como um ser social e proporcionando atendimento integral e de qualidade.
            É dentro desse cenário que o CREMESP tornou obrigatória a realização de sua prova, aplicada desde 2005 (um protótipo, segundo o próprio Conselho, de um exame de ordem) para os recém-formados médicos paulistas, para tentar barrar a entrada de “maus” médicos no mercado de trabalho.
            Há ainda intensa mobilização de diversos setores, com repetidos pronunciamentos do Conselho na mídia aberta, de caráter alarmante sobre o tema, com a transmissão de informações insuficientes,  com forte apelo à sociedade (que obviamente luta por médicos melhores preparados para atendê-la), mas que, infelizmente, não tem oportunidades nem canais suficientes para refletir sobre a validade e efetividade de tal exame, muito menos sobre as condições em que se encontra a educação médica atual. Entre adeptos fervorosos à prova e posições indecisas, poucas Instituições tem-se mostrado claramente contrárias a esta empreitada realizada pelo CREMESP.
Ponto discordante dessa tendência seriam a DENEM e a ABEM. A DENEM (Direção Executiva Nacional Dos Estudantes de Medicina), desde o ano de 1989, já se posicionava criticamente frente ao tema. Em janeiro de 2005, a ABEM publicou carta assinada pelo Prof. Dr. Milton de Arruda Martins, professor da USP-SP e então presidente da ABEM, em que se posicionava contrária a instituição no Brasil de qualquer tipo de exame de Habilitação, realizado após o final do curso médico, reforçando a necessidade de uma melhor participação governamental neste aspecto, desde o fomento e reestruturação das escolas em vigência ao controle da abertura indiscriminada de novas escolas médicas. No mês de agosto deste ano, o CREMERJ emitiu uma nota em seu jornal posicionando-se contrário a iniciativa do CREMESP. Nesta paisagem nublada os estudantes se mobilizam e procuram uma posição, nos momentos em que suas áreas verdes possibilitam, em meio a intensas atividades curriculares obrigatórias.
            Acreditamos, que a avaliação discente, bem como da Escola Médica, é de extrema importância. Para tanto, faz-se necessária uma avaliação que realmente contemple as atitudes e habilidades fundamentais para o desempenho do bom médico, e que seja continuada ao longo do curso, de modo a permitir a correção das deficiências encontradas, sejam elas individuais, do estudante, ou do ensino. Sendo terminal o proposto exame,  nada sofreriam as escolas médicas que não formam bons médicos, sendo imprescindível que as escolas sejam avaliadas, bem como sua estrutura e corpo docente e não apenas seus produtos (os alunos).  Acreditamos ser de extrema importância uma avaliação ao longo do curso para que, com isso, as reais deficiências no ensino fosse percebidas e corrigidas antes da formatura do estudante.
A Regional São Paulo da ABEM  acredita que uma avaliação única, simplesmente teórica e terminal, não será capaz de avaliar a qualidade dos egressos de medicina e em nada contribuirá para a melhoria do Ensino Médico. Por esse motivo, decidiu, em reunião realizada no dia 22 de setembro de 2012, nas instalações da Faculdade de Medicina na USP, produzir esta carta, que demonstra a sua posição contrária ao exame proposto pelo CREMESP.

ABEM – Regional São Paulo, outubro de 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário